Luís Roberto Barroso deixa o Supremo Tribunal Federal e leva consigo uma era de protagonismo judicial que jamais será esquecida — ainda que por motivos nem sempre nobres. Seu nome se tornou sinônimo de ativismo, politização e de um STF que, em vez de interpretar a Constituição, passou a reescrever a vontade popular com toga e microfone.
É fato que Barroso é um homem culto, inteligente e articulado. Mas também é fato que usou a Corte como palanque, transformando o papel de juiz em algo próximo ao de militante de causas ideológicas. A história lembrará de suas decisões e discursos não apenas pelo teor jurídico, mas pela insistência em interferir na arena política e moral do país — algo que enfraquece o próprio Judiciário.
Agora, ao se aposentar, Barroso deixa um espaço que poderia ser uma chance de renovação, um sopro de equilíbrio e sobriedade no STF. Poderia — se o Brasil não estivesse novamente à mercê de uma indicação do Partido dos Trabalhadores, que há décadas tenta consolidar sua influência sobre as instituições de Estado.
A sucessão de Barroso não desperta esperança, mas preocupação. É mais uma vaga a ser preenchida sob o crivo político de um governo que vê o Supremo não como guardião da Constituição, mas como extensão de seu projeto de poder.
Não se trata de torcida, mas de constatação: o STF se distanciou da sociedade. Tornou-se uma arena de discursos, de vaidades e de alinhamentos estratégicos. E a aposentadoria de Barroso — que deveria simbolizar o encerramento de um ciclo — corre o risco de ser apenas a troca de um protagonista por outro, igualmente comprometido com a cartilha ideológica do poder de plantão.
O Brasil precisava de um novo tempo no Supremo: menos holofote, mais Constituição. Mas enquanto o jogo de indicações continuar nas mãos de quem confunde partido com Estado, o país seguirá refém de um Judiciário politizado — e a toga, cada vez mais, continuará servindo como escudo para a conveniência dos poderosos.
Gabriel Bertochi
Colunista – Tribuna Conservadora
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